Guerra nuclear local, catástrofe global

As preocupações se fixam em Estados Unidos e Rússia, mas uma guerra nuclear regional entre Índia e Paquistão poderia ofuscar o Sol e matar de fome grande parte da humanidade

Abolição: a única política
As pessoas têm várias noções incorretas sobre o inverno nuclear. Uma delas é que os efeitos climáticos foram invalidados. Isso simplesmente não é verdade. Outra é que o mundo passaria por um “outono nuclear”, em vez de um inverno. No entanto, nossos cálculos mostram que as consequências climáticas de um conflito regional seriam amplas e severas. Os modelos e computadores utilizados na década de 80 não tinham a capacidade de simular a elevação e a persistência da fumaça, nem o longo tempo para o reaquecimento dos oceanos quando ela finalmente se dissipasse. As projeções atuais de uma guerra atômica em escala total prevêem um inverno, não um outono nuclear.

Outra impressão equivocada é que o problema, mesmo que existisse, foi solucionado com o fim da corrida armamentista. De fato, arsenais atômicos americanos e russos remanescentes após as reduções de 2012 ainda poderiam gerar rapidamente um inverno nuclear. Além disso, o crescente número de nações nucleares aumenta as chances de um conflito deliberado ou acidental. Por exemplo, a Coreia do Norte ameaçou declarar guerra caso o mundo interditasse seus navios para inspecioná-los em busca de materiais atômicos. Felizmente, o país ainda não dispõe de um arsenal operacional, mas poderá ter um de alcance global, no futuro próximo. Na Índia, após os recentes atos terroristas, alguns líderes extremistas defendem um ataque nuclear contra o Paquistão. E, como a Índia poderia invadir seu vizinho rapidamente com forças convencionais, seria concebível que Islamabad desfechasse uma ofensiva nuclear preventiva se acreditasse estar na iminência de uma guerra. O Irã prometeu destruir Israel, potência atômica que jurou jamais permitir que os iranianos se nuclearizassem. Todos esses exemplos representam nações que se consideram sob constante ameaça. Essas áreas voláteis têm o potencial de explodir subitamente.

O primeiro ataque nuclear em 1945 chocou tanto o mundo que, apesar do intenso armazenamento de armas atômicas, nunca mais houve algo semelhante desde então. O único modo de anular a possibilidade de uma catástrofe climática é eliminar esses arsenais. Uma rápida redução das ogivas americanas e russas constituiria um exemplo para o resto do mundo de que armas nucleares não podem ser utilizadas e são desnecessárias.

No Tratado sobre Reduções Estratégicas Ofensivas (SORT, na sigla em inglês), os Estados Unidos e a Rússia se comprometeram a limitar o número de ogivas estratégicas posicionadas entre 1,7 mil e 2,2 mil cada um até o fim de 2012. Em julho de 2009, o presidente Barak Obama e seu colega russo, Dmitry Medvedev, concordaram em reduzir ainda mais essa margem – de 1,5 mil a 1,7 mil até 2016. Embora arsenais estratégicos menores sejam louváveis, nossos resultados mostram que até números mais modestos são muito mais que suficientes para destruir a agricultura em todo o mundo. Uma guerra atômica regional também. Se essa carga explosiva fosse utilizada contra alvos urbanos, centenas de milhões de pessoas seriam obliteradas da face da Terra e colossais 180 Tg de fumaça seriam enviados para a estratosfera global. As temperaturas médias se manteriam abaixo de zero durante anos nas principais regiões agrícolas, inclusive no verão. Até as ogivas transportadas por um único submarino armado com mísseis poderiam produzir fumaça suficiente para gerar um desastre ambiental de escala planetária.
 
Fonte: http://www.uol.com.br 
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