Alemães criam superfornalha solar para construção de cidades na Lua

A poeira áspera que cobre a superfície da Lua precisa ser compactada antes de eventual uso

Apesar de o filme 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro ter um vilão poderoso, esse filme de 1974 é considerado um dos mais fracos da franquia James Bond.
A história vai de Londres à Tailândia, com o protagonista no encalço do assassino Scaramanga e do projeto Solex – um aparelho capaz de transformar a luz do Sol em energia ilimitada.

Na sequência final do filme, no esconderijo de Scaramanga, o vilão demonstra a Bond seu plano para dominar o mundo, acionando um espelho gigante que concentra a luz do Sol em um raio mortal.
Embora a trama seja pouco plausível, a ciência por trás da ideia não é exagerada. Na verdade, engenheiros da agência espacial alemã, a DLR, estão trabalhando em uma tecnologia parecida.
Em vez de estar disfarçado numa pedra em uma caverna secreta, o espelho gigante na sede da DLR em Colônia fica atrás de uma cerca baixa, no final do estacionamento.
O painel reflete a luz para o chamado Concentrador Solar - um nome bem ao estilo Bond. Persianas elétricas se abrem para revelar um arranjo de seis metros de altura com 159 espelhos hexagonais polidos que - como o nome sugere - concentram a luz do sol em um feixe comprimido.
A luz é direcionada a uma fornalha solar, onde as temperaturas podem alcançar 2.500ºC. Protegida por uma tela e cercada por avisos de perigo, a estrutura é capaz de derreter a maioria dos metais - incluindo ferro, aço e titânio. Perfeita para planos de dominação do mundo - e ainda ecologicamente correta.

Custo astronômico

Mas os planos dos cientistas da DLR são mais ambiciosos do que qualquer projeto terrestre. Eles estão usando a fornalha solar para descobrir como construir uma vila lunar, uma ideia para um assentamento na Lua descrita em 2015 pelo novo chefe da agência espacial europeia, Jan Woerner.

Uma base permanente na Lua não sairá barato. As missões Apollo, que enviaram astronautas ao satélite natural da Terra no final dos anos 1960 e começo dos 1970, custaram cerca de R$ 800 milhões em valores atualizados, e apenas para colocar 12 pessoas na superfície. Imagine a despesa adicional de enviar módulos de habitação e materiais para construí-los.

Usar poeira como essa para construir estruturas no espaço pode ser uma grande economia de recursos

"Um dos maiores desafios é erguer uma base na Lua sem gastar muito dinheiro enviando coisas até lá", diz o físico de materiais da DLR Matthias Sperl.
Por muitas décadas, artistas, arquitetos e engenheiros elaboraram projetos complexos de bases lunares - subterrâneas ou em domos - feitas com materiais disponíveis na Lua. Até hoje, no entanto, ninguém encarou a física básica para verificar a viabilidade das ideias.
"Começamos do zero para imaginar o que teria acontecido se não tivéssemos nascido na Terra", conta Sperl, "mas tivéssemos aprendido a construir uma casa na Lua."
Sperl está usando a fornalha solar para estudar as propriedades da poeira da Lua e verificar se é possível derretê-la ou assá-la em forma de tijolos.

"Temos bastante poeira da Lua e bastante luz solar, então estamos tentando tirar o máximo proveito possível disso."
Em seu escritório, Sperl mostra tubos de ensaio com um pó cinza bem fino, idêntico à poeira lunar de verdade. Ele sugere evitar tocar o material.
"Imagine uma mistura de areia da praia com cinza vulcânica", afirma o físico. "Ela é bem áspera, e se você rever imagens dos astronautas da Apollo, você verá que ela entra em tudo que é lugar, então é melhor evitá-la."

'Uma grande responsabilidade'

Esse pó cinza não promete ainda um material de construção para uma estrutura robusta e à prova de radiação, necessária para proteger uma eventual comunidade lunar.
"Isso me traz uma grande responsabilidade", reconhece Sperl. "É melhor garantir que o abrigo para onde mandaremos nossos astronautas seja seguro como uma rocha, para que eles possam sobreviver naquele ambiente hostil."

A fornalha usa a luz do Sol para gerar temperaturas de até 2.500ºC

Considerando que a equipe de Sperl consiga transformar, na Terra, a simulação de poeira lunar em material sólido, a etapa seguinte será descobrir se o processo será viável na Lua.
Uma opção em estudo é levar uma fornalha solar até a Lua, onde astronautas ou robôs poderiam produzir tijolos e trabalhar como pedreiros para montar estruturas. Ou talvez possam usar blocos com partes que se encaixam, como peças de Lego.
"Uma vez que saibamos os parâmetros físicos, poderemos decidir se será melhor construir usando uma grande pilha de Lego", diz Sperl, "ou se devemos montar tudo sem ligações entre os elementos da construção."
Isso pode envolver imprimir uma base lunar em 3D a partir da poeira lunar, uma ideia que a Nasa (agência espacial americana) investiga para Marte.

Será que a agência espacial alemã buscou inspiração nos filmes de James Bond?

O conceito evita o problema do envio de galões de material colante para unir tijolos, mas demandaria a criação e o lançamento de uma impressora 3D até a Lua.
Os engenheiros também precisarão considerar a menor gravidade da Lua - qualquer tijolo ou estrutura criada em impressão 3D não precisa ser tão forte como na Terra, liberando as restrições da engenharia feita na gravidade da Terra.
"Estamos bem animados para aprender como a engenharia civil será na Lua", afirma Sperl. "Você poderia ter as estruturas mais malucas, simplesmente impossíveis de construir na Terra."
Esses conceitos podem levar décadas para sair do papel. Mas apenas a investigação dos desafios fundamentais por trás da construção de uma vila na Lua a partir de poeira lunar já animam os cientistas envolvidos na iniciativa.

"Isso pode acontecer de verdade", diz Sperl, "e eu mal posso esperar."

Fonte: http://www.bbc.com

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