6 - Onde há dúvidas (II)

Poucas coisas unem mais os pesquisadores do que a certeza de que existe uma enorme conspiração conduzida pelos serviços secretos de vários países e pela mídia em geral para desacreditar o fenômeno dos Círculos. Um bom exemplo é o artigo de Marcus Allen (The Sussex Circular #33, September, 1994). Como outro exemplo, Freddy Silva diz já ter sido revelado que militares estariam subornando os fazendeiros para que destruíssem qualquer círculo que fosse encontrado em seus terrenos. A história teria sido confirmada por vários fazendeiros que "naturalmente preferiam ficar no anonimato". Naturalmente.

Entretanto existe um ponto que é comum aos teóricos da conspiração em geral: a sutil falta de detalhes. Por exemplo, no site de Freddy Silva, lê-se que "felizmente, pesquisadores descobriram que por detrás de cada incidente mostrado na televisão (tentando desmascarar os Círculos como fraudes) estava o governo inglês, com o conhecimento de inteligências estrangeiras, estando a CIA e as autoridades germânicas em primeiro lugar. Em vários incidentes, documentos vazaram provando um complô multinacional para desacreditar os Círculos. Esta evidência foi publicada e creditada a George Wingfield, Armen Victorian, Jurgen Kroenig e outros".

Bem, a CIA já se tornou uma espécie de referência obrigatória em se tratando de teorias conspiratórias mas que autoridades alemãs são essas? Que documentos? Esta evidência foi publicada aonde? Quem são as pessoas citadas? Não há links, não há referências bibliográficas, não há nada que ultrapasse o simples boato, especialmente de uma coisa que se diz provada e que consiste na contra argumentação central dos que defendem a veracidade dos círculos.

Em um dos artigos publicados na revista "O Circular", Lucy Pringle (a pesquisadora que relata a opinião de gatos) faz menção ao significado de uma Flor de Lótus. Segundo ela, diferentes chacras são representados por flores de lotus com diferentes números de pétalas. Segue dizendo que: "É largamente aceito que o chacra do plexo solar é representado por uma flor com dez pétalas e relaciona-se ao aspecto emocional do nosso ser, a energia que flui para o coração".

Poucos meses depois deste artigo ter sido publicado, uma formação representando uma rosa com dez pétalas foi encontrada. O caso é narrado no próprio site de um dos cerealogistas. O curioso é que ninguém viu nada estranho nisso, pelo contrário; preferiram crer na maravilhosa coincidência da mensagem do que imaginar que alguém tivesse simplesmente se inspirado no artigo para construir um novo círculo.

A primeira formação possui quatro extremidades, por isso é associada a um chacra primário, enquanto a segunda é associada a um chacra secundário por possuir seis pétalas
( www.greatdreams.com/crpchk1.html)

Ainda assim a analogia entre os círculos e chacras que este cerealogista faz nos parece um tanto forçada. Como qualquer pessoa que já estudou desenho geométrico antes poderá dizer, uma rosa com seis pétalas é uma das figuras mais óbvias que se pode fazer com um compasso (ou com um lápis e um fio). Nenhuma criança imagina estar desenhando chacras ao brincar com um compasso, nem seus pais buscam tais significados ocultos nestes inocentes desenhos.

Por último uma informação curiosa. O grupo circlemakers relata em seu site terem visto diversas vezes estranhas luzes e flashs enquanto eles mesmos construíam seus círculos. Por exemplo, Matthew Williams um dos fazedores de círculo, relata como ele e dois amigos reproduziram um círculo na Nova Zelândia patrocinados por uma rede de TV japonesa. Ao final da narrativa, Matthew explica que sempre reza antes de construir seus círculos a fim de atrair forças paranormais para si e para outros e em seguida comenta ter observado, durante a construção do círculo, um misterioso globo de luz alaranjada junto a uma árvore, que desapareceu após 10 minutos. Acrescenta que durante este tempo o globo de luz não foi visto por mais ninguém da (numerosa) equipe de filmagem. Matthew então explica que não foi a primeira vez que viu luzes vermelhas ou laranjas enquanto construía seus círculos e que normalmente associa estas luzes a "outras formas ou outras inteligências". Estariam os fazedores de círculos nos dando a solução de um mistério ao mesmo tempo que criam um novo? Será que os circlemakers não têm interesse em desmistificar por completo os círculos preferindo manter algum aspecto de mistério em torno de sua arte? Será que as luzes coloridas são um fenômeno genuíno associado aos círculos, independente de quem os está criando?

Pelo menos no caso de Matthew e de seu círculo na Nova Zelândia a resposta pode ser obtida em suas próprias palavras, pois logo no início de sua história ele nos conta como a equipe de iluminação da TV japonesa acendia a cada hora poderosos refletores para que o progresso do círculo pudesse ser filmado em cores, e como, depois que eles eram desligados, todos ficavam praticamente cegos e ofuscados por mais ou menos 10 minutos, curiosamente o mesmo tempo que seu globo de luz alaranjada levou para desvanecer.

Fonte: http://www.projetoockham.org 

Tecnologia do Blogger.