5 - Onde há dúvidas (I)

A primeira e mais óbvia questão que vem à cabeça depois do estudo do farto material existente sobre os círculos nas plantações é a seguinte: mais de vinte anos e milhares de círculos depois, como é possível ainda não haver nenhuma informação sólida sobre o assunto? Os próprios pesquisadores do tema admitem estarem praticamente no mesmo ponto em que estavam no final dos anos 70, quando os círculos começaram a ser estudados. Não seria isto suficiente para indicar que talvez os cerealogistas estejam perseguindo uma quimera e que toda a história deve ser encarada apenas como um gigantesco fenômeno artístico e social?

Por que os círculos são invariavelmente criados à noite? Afinal, das possíveis causas apresentadas pelos investigadores de círculos para sua criação: místicos, religiosos, geológicos, meteorológicos ou extraterrenos, nenhum parece necessitar da noite como catalisador (afinal, OVNIs nunca foram exclusivamente notívagos). Por outro lado seres humanos que desejam construir círculos sorrateiramente, seja para não serem descobertos pelos donos das plantações que destróem, seja para manterem o tema envolto em mistério, estes sim são favorecidos pela escuridão. Há pelo menos uma certeza: muitos círculos, incluindo os tidos como genuínos (por exemplo os "desconcertantes" círculos de Chilbolton) foram descobertos após o fim de semana, o que mostra que os ETs ou pessoas que os criaram parecem preferir a quietude dos fins de semana para trabalhar.

As primeiras formações observadas ainda durante os anos 70 eram círculos simples ou conjuntos de círculos concêntricos. Desde então os desenhos evoluíram para padrões muito mais elaborados: formas esotéricas, figuras de animais, representação de campos magnéticos, fractais e muitos outros simplesmente não classificáveis. A complexidade crescente dos círculos não seria um indicativo de que alguma evolução técnica estaria ocorrendo? E de quem se esperaria uma tal evolução? De alienígenas que logicamente dominam a tecnologia de viagem interplanetária (e que viajaram milhares de anos-luz para passar suas noites em campos de trigo), ou de seres humanos acumulando e repassando para outros o know-how adquirido com décadas de prática? Pode-se é claro alegar que a mensagem que os criadores de círculos estão enviando é que está se tornando mais complexa, à medida que nos tornamos mais preparados para interpretá-la. Mas e quanto ao fato de que os círculos feitos na Inglaterra, onde o fenômeno nasceu e onde sempre houve a esmagadora maioria das ocorrências, sempre foram os mais elaborados do mundo? Isto não corroboraria o fato de que os ingleses se especializaram em fazer círculos como os suíços em fazer relógios?



Os pesquisadores sustentam que os círculos tidos como genuínos possuem características impossíveis de serem reproduzidas por seres humanos. De fato este deve ser o ponto central em todo o estudo dos círculos, pois se os círculos genuínos realmente se diferenciam através de dados mensuráveis, como níveis de radiação e alterações biofísicas das plantas, parece bastante simples separá-los daqueles criados por grafiteiros de cereais, aventureiros, agentes da CIA, Homens de Preto ou quem quer que seja. Se este ponto fosse devidamente esclarecido, científicamente provado, não restaria muito com que os céticos pudessem argumentar. A tarefa é até relativamente simples: bastaria recolher amostras de plantas em círculos ao redor do mundo (material não falta; surgem quase 200 círculos por ano, 150 somente na Inglaterra), distribuir as amostras de forma randômica e enviá-las para que laboratórios isentos façam as análises. Infelizmente este nunca foi o procedimento adotado.

Uma das "técnicas" mais utilizadas para a análise da genuinidade de um círculo é a radioestesia, ou "dowsing" (veja aqui uma análise mais detalhada desta pseudociência). O principal equipamento empregado na radioestesia é chamado de dowser, que pode ser um pêndulo, uma forquilha ou um par de varetas apoiadas em um suporte (exemplos). Freddy Silva, um de seus pesquisadores mais famosos, define a técnica: "dowsing é uma técnica intuitiva que emprega varas ou pêndulos para localizar áreas de energia. O sistema nervoso central sendo eletromagnético por natureza reage com o campo eletromagnético de uma área ou objeto e a força muscular é transferida para as varas. Assim, os radioestesistas são capazes de localizar quaisquer coisas que procurem, pois fundamentalmente toda matéria e espírito é um conjunto de linhas eletromagnéticas". Segundo o pesquisador este versátil instrumento possui múltiplas funções como medir a energia de chacras, encontrar água, óleo e objetos perdidos pela casa (uma espécie de canivete suíço astral). Vários pesquisadores dos círculos são também iniciados na utilização destes instrumentos (que dizem ser usados pelas grandes companhias de petróleo na procura de reservas minerais).

Usando da suspensão da descrença por um instante, imaginemos que o dowser seja um instrumento realmente válido para determinar a energia eletromagnética, ou qualquer outro tipo de energia, que alguns dos círculos possam possuir. Em seu site Freddy Silva afirma que a precisão das medidas feitas com este aparelho está sujeita à fé da pessoa que o opera. Diz Silva: "quando uma pessoa se aproxima de um círculo com um sentimento profundo de que ele é real, surpreendentemente o dowser reage a esta crença". Ainda segundo Silva um círculo falso não possui energia detectável por um dowser, "exceto aqueles onde um grupo de pessoas tenha meditado dentro".

Agora, qual é exatamente o valor científico de uma medida feita com um instrumento cujos resultados podem ser diferentes de acordo com a pessoa que o opera ou de acordo com a fé da pessoa no instante que o opera? E que podem ser mascarados caso um grupo de pessoas tenha meditado anteriormente no local da medição?

Algumas vezes métodos ainda mais subjetivos são citados: segundo um pesquisador, os círculos "genuínos", feitos por quem quer que seja, possuem um diferencial estético, "algo que você percebe quando o vê, mas que não pode ser explicado pois toca cada pessoa diferentemente. Algo que tem a ver com proporção e balanço, clareza e precisão e a habilidade de comunicar a um nível que transcende a maravilha." Marcus Allen (The Sussex Circular #33, September, 1994 disponível em www.greatdreams.com)

Os cerealogistas divergem sobre qual a parcela dentre todos os círculos é genuína. Nancy Talbot diz que mais de 90% são genuínos, enquanto Colin Andrews conclui, após uma década de estudo, que 80% são criados por homens. Ou seja, dado um círculo é muito provável que um estudioso o classifique como "genuíno" e outro como "falso". Isto não indica que os próprios pesquisadores estão sem parâmetros para julgar quando um círculo é feito por homens ou não?

Como dissemos, sempre temos o cuidado de ao menos tentar destilar o caldo dos estudiosos retirando dele os charlatães descarados, mas mesmo das fileiras dos pesquisadores ditos sérios vêm argumentos insólitos; Lucy Pringle, que estuda o fenômeno há pelo menos uma década, diz que "uma amiga colocou seu gato no centro do círculo e este parecia sentir que havia algo extraordinário". Outra hora diz que mulheres grávidas devem evitar os círculos pois eles podem causar partos precoces (Por sinal o site desta pesquisadora é lugar certo para se comprar bugigangas relacionadas aos círculos, como posters, calendários e pingentes).

Nem tudo, no entanto, é tão subjetivo no estudo dos círculos. Existem pelo menos (na verdade foram todos que conseguimos localizar) três artigos publicados com ao menos um verniz científico. O primeiro é o estudo de um certo BLT Research Team (onde BLT não é a inicial de algum centro de pesquisa como você poderia esperar, mas a inicial dos pesquisadores - Jonh A. Burke, Nancy Talbot e Dr. W.C. Levengood) mostrando que, em laboratório, plantas retiradas de dentro dos círculos cresceram mais do que aquelas retiradas de fora deles. A conclusão dos pesquisadores é a seguinte: "Estas mudanças físicas amplamente documentadas sofridas pelas plantas (arroz, milho,etc) nas formações ao redor do mundo sugerem o envolvimento de complexos e intensos sistemas de energia de plasma operando sob condições de caos determinístico". O que isso quer dizer exatamente foge ao nosso conhecimento.

Infelizmente não se pôde averiguar no site do BLT Research qual a formação dos autores (à exceção de um dos deles, biofísico), e embora eles apregoem utilizar técnicas de microscopia eletrônica, EDX, espectrometria de massa, difração de raios-x e outros, tudo o que é mostrado são plantas em diferentes estágios de crescimento. Embora seja uma experiência válida, ela poderia ser reproduzida por qualquer pessoa com talentos medianos de jardinagem e parece muito pequena para um "time" de pesquisadores. O BLT Research Team diz, no entanto, que estes resultados são apenas o "ápice da pirâmide" e oferece um dossiê completo com os resultados de suas investigações caso se envie US$ 20 e um envelope selado para Nancy Talbott, Box 127, Cambridge, Massachusetts 02140 (apesar de não se considerarem uma organização com fins lucrativos). Como não enviamos os US$ 20, não pudemos julgar o estudo por completo.

O segundo estudo existente é do Dr. Hasselhoff, PHD em física. Autor do elogiado livro "Crop Circles", Dr Hasselhoff procura dar o enfoque mais racional possível ao fenômeno. Infelizmente nos parece que neste caso "o mais racional possível" não é o suficiente. Veja duas de suas respostas às perguntas postadas em seu site www.dcocc.com:

"Boa pergunta. Porque há tantos pingüins no pólo sul e não em outros lugares?"
Parte de sua resposta à pergunta: "Por quê há tantos círculos na Inglaterra?

"Mesmo não conhecendo a origem dos círculos fica claro que 'Os Sinais sobre a Terra' chegaram. Isto deveria fazer qualquer um pensar duas vezes antes de dispensar o assunto como algo sem importância".
Quando perguntaram-lhe se os círculos poderiam ser a confirmação dos "sinais sobre a Terra" previstos no livro do Apocalipse, que antecederiam à segunda vinda de Cristo.

O julgamento fica por conta do leitor.

De qualquer maneira seu estudo conclui que as bolas de luz normalmente associadas ao surgimento dos círculos podem ser as causadoras das alterações biofísicas sofridas pelas plantas. A natureza destas alterações e sua distribuição nos círculos a que se refere o Dr. Hasselhof são as relatadas no trabalho do Dr. Levengood (o "L" do BLT Resesarch) que por sua vez foi criticado pela comunidade científica por não ter conduzido seus experimentos de maneira totalmente imparcial. Ou seja, o trabalho do Dr. Hasselhoff está apoiado em resultados controversos.

Fonte: http://www.projetoockham.org
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